sexta-feira, 4 de maio de 2012

Menina de 11 anos teve um filho [ANGOLA]


A médica Ginecologista e Obstetra, Eurídice Chongololo,  revelou que no ano passado uma menina de 11 anos deu a luz à uma criança, na Maternidade Lucrécia Paím. “Ela foi seguida num centro de saúde municipal e veio para aqui no último mês de gestação, foi submetida a uma cesariana. Felizmente, tanto ela como o bebé estão bem”.





Casos de adolescentes grávidas têm sido comuns. Diariamente, segundo a médica, são atendidas, em média, duas meninas grávidas, o que dá uma ideia da amplitude do problema.


“Ter um filho antes dos 20 anos é prematuro porque os órgãos reprodutores da mulher não estão maduros e, do ponto de vista social, a gestante não tem uma situação que lhe permita cuidar de um filho”, explicou a especialista.


Ao terem um filho tão cedo, as adolescentes correm sérios riscos. “Nestas circunstâncias, as probabilidades de complicações durante o parto são maiores. Pode acontecer ruptura uterina e sangramento pós parto, o que pode levar à morte”, esclareceu Eurídice Chongololo. Por outro lado, em muitos casos, os bebés nascem com um peso elevado, o que exige da equipa médica um trabalho aturado, para garantir a sobrevivência da mãe e do recém-nascido. “São situações extremas porque envolvem crianças que terão de cuidar de crianças”, realçou a fonte que temos vindo a citar.


Na origem das gravidezes precoces, segundo a obstetra, está, na esmagadora maioria dos casos, a falta de informação e acompanhamento por parte dos familiares, que, apesar de conviverem com adolescentes em idade reprodutiva, não têm conversas francas com elas e nem as levam a consultas com especialistas, que as podem apoiar. “Estas meninas vivem num mundo de mitos e contos, baseado no que ouvem dizer”, frisou Eudice Chongololo.


“É importante alertar que, para além da gravidez precoce, estas meninas correm o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis”, alertou a médica. Para inverter o quadro, a Maternidade Lucrécia Paím tem feito um trabalho intenso de sensibilização através de palestras regulares, nas quais participam mulheres em idade reprodutiva e homens.


“Para aqueles pais que têm meninas em idade reprodutiva, especialmente no caso daquelas que têm vida sexual activa, devem encaminha-las aos especialistas, no sentido de receberem informação correcta sobre como se proteger”, realçou Eurídice Chongololo.


Milhares de adolescentes fora do sistema de ensino


O drama da gravidez na adolescência tem grande impacto na vida das meninas. É o que realça a Directora Nacional para o Ensino Geral, Luísa Grilo, que, fruto da sua experiência no ramo, revelou que, na maior parte dos casos, as meninas acabam por desistir de frequentar as aulas porque são estigmatizadas pelos outros colegas e por professores. Por outro lado, porque a mãe tem de amamentar e acompanhar o filho, torna-se difícil conciliar as novas tarefas com as actividades académicas.


Anualmente, a nível nacional, mais de 500.000 crianças abandonam o sistema de ensino e, segundo a Directora Nacional para o Ensino Geral, entre as raparigas, a maior causa do problema é a gravidez precoce. “É importante reter que a gravidez precoce é extremamente penalizante para a rapariga. Os próprios colegas a marginalizam, ela própria não se sente a vontade, pensa que cometeu uma falha em relação a sociedade e a si mesma. Em muitos casos, ela própria pede para ser transferida para o turno da noite, onde encontra pessoas adultas ou mesmo desiste”, frisou Luísa Grilo.


Para ajudar a combater o problema, o Ministério da Educação está a implementar, desde 2005, um programa que visa dar informação aos estudantes sobre doenças sexualmente transmissíveis, particularmente o HIV, e sobre maternidade e paternidade responsável, avançou a responsável. Os conteúdos começam a ser ministrados a partir da 5ª classe e, com maior incidência, na 9ª classe, constando, inclusive, dos manuais de Biologia, Educação Moral e Cívica e Ciências da Natureza.


“Os estudantes precisam entender o que acontece do ponto de vista físico e biológico quando uma criança inicia precocemente a sua vida sexual e os benefícios de terem a primeira relação quando estiverem preparadas, não só física mas também mentalmente”, explicou Luísa Grilo.



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